Bola Em Campo

8 de março de 2010

Meu coração cabem Brasil e Portugal.


Intervalo de jogo em Coimbra. Portugal vence a China por 1 a 0 e os jogadores regressam a campo. O locutor do estádio anuncia as substituições na seleção local. O mais aplaudido é um baiano de 32 anos, magrinho e não muito alto, que nasceu para fazer gols. Somente neste domingo, Liedson da Silva Muniz fez quatro numa mesma partida, na vitória de 4 a 0 do Sporting sobre o Belenenses pelo Campeonato Português. Foi assim que o ex-jogador de Coritiba, Flamengo e Corinthians conquistou os "adeptos" do clube lisboeta e agora faz o mesmo com toda a torcida portuguesa.



Por conta dos gols, Liedson é nome praticamente certo na Copa do Mundo da África do Sul. Naturalizado lusitano, o brasileiro fala sobre como ficará seu coração no duelo contra a seleção canarinho no dia 25 de junho, em Durban, pelo Grupo G do torneio.



- Não tenho problema algum em falar que defendo Portugal com amor. Foi um país que me ajudou muito e devo muito a Portugal. Claro que sou brasileiro, todo mundo sabe disso, e amo também o meu Brasil. Primeiramente sou brasileiro, mas agora sou português também e no coração cabem os dois países.
GLOBOESPORTE.COM: Já dá para se imaginar disputando a Copa do Mundo?
Liedson: Consigo, sim. Às vezes dá aquele friozinho na barriga, mas é uma sensação boa. É uma coisa diferente. Vai ser muito bom estar lá. Mas agora eu preciso ter calma e tranquilidade para continuar fazendo meu trabalho até o Mundial. Ainda falta algum tempo.

Você gostaria que Portugal e Brasil não tivessem caído no mesmo grupo? Qual a sua reação assistindo ao sorteio da Copa? Eu não pensei nisso na hora, pensei que Portugal tinha caído num grupo difícil, talvez o mais difícil do Mundial. Mas a gente não pode escolher. Seria difícil de qualquer jeito. Agora é estar bem preparado. Temos um jogo importantíssimo na estreia contra a Costa do Marfim. Depois, a Coreia do Norte também não será fácil. Não é apenas Portugal contra o Brasil.

Portugal há muito tempo procurava um homem-gol e você marca até sem querer, como na vitória por 2 a 0 sobre a China, em que a bola bateu em você e entrou. Tem algum segredo para fazer gols?
(Risos) Aquele ali foi sem querer mesmo. Não esperava que o árbitro fosse dar o gol para mim. Mas não tem segredo. Eu trabalho duro e acho que já conheço bem o futebol português depois de sete anos. Sempre fui artilheiro da minha equipe nas temporadas aqui, já tenho mais de 150 gols marcados pelo Sporting e isso tudo ajuda bastante.

Mesmo assim, o treinador Carlos Queiroz deixou você no banco contra a China. Acha que vai conseguir convencê-lo até a Copa e conquistar a vaga de titular? Foi uma opção do treinador, não sei o que vai acontecer. Mas eu vou trabalhar para ser titular. Não vou à África do Sul para passear de jeito nenhum. Respeito as decisões do treinador, mas eu quero jogar e vou procurar fazer um ótimo fim de temporada para chegar muito bem ao Mundial.

A torcida portuguesa está desconfiada com a seleção. Chegaram a gritar olé para a China no amistoso em Coimbra.
A torcida é sempre muito exigente. Mas a equipe realmente não esteve bem. Não foi um bom dia e acabou prevalecendo mais a nossa força contra um adversário sem muita tradição. O mais importante foi vencer, mas temos ainda um longo caminho até a Copa do Mundo. Os torcedores nos apoiam muito também e tenho certeza de que será assim na África do Sul.

Você foi um dos poucos jogadores aplaudidos no amistoso contra a China. Como é a relação com os torcedores portugueses? Alguma queixa pelo fato de você ser brasileiro?
Não, a relação é ótima. Fico muito feliz por isso e agradeço bastante esse apoio que eles têm por mim. Nunca tive problema algum e todos sempre me trataram muito bem. Eu procuro ser uma pessoa correta no meu dia a dia e fazer gols pela seleção para dar alegrias aos adeptos, como eles chamam os torcedores por aqui. Acho que fiz a escolha certa. Não tenho problema algum em falar que defendo Portugal com amor. Foi um país que me ajudou muito e devo muito a Portugal. Claro que sou brasileiro, todo mundo sabe disso, e amo também o meu Brasil. Primeiramente sou brasileiro, mas agora sou português também e no coração cabem os dois países.
Se havia alguém contra a sua presença na seleção deve ter mudado de ideia logo na sua estreia, não?
Não posso dizer que aquela foi uma estreia ruim, foi muito boa realmente. Nós precisávamos muito daquele resultado contra a Dinamarca, vínhamos de uma fase difícil e uma derrota teria complicado demais as coisas para nós. Foi um momento marcante. A partir dali as coisas mudaram para nós.

Você já conseguiu conquistar o apoio dos torcedores do Benfica, maior rival do Sporting, nos jogos da seleção?
(Risos) Sim, deles também. Já tinha um respeito grande pelo Benfica e os torcedores por mim, porque eles sabem que estou no Sporting fazendo meu trabalho, defendendo o meu clube. A maioria, quando me encontra, diz: “Você é um grande jogador, mas está na equipe errada. Vê se não faz gol no Benfica!". Mas são todos sempre muito educados. Hoje sou querido pelos adeptos de todas as equipes em Portugal.

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