Bola Em Campo

5 de abril de 2010

Cristiano Ronaldo


Em entrevista exclusiva à Placar, Cristiano Ronaldo diz que não se cansa de enfileirar títulos e prêmios — e revela que ainda sonha marcar um gol fazendo fila nos adversários.

Confira a entrevista na íntegra:

Nos últimos 12 meses você ganhou a Champions League, o Mundial de Clubes, a Chuteira de Ouro, e foi eleito o melhor jogador da Europa e do mundo. O que vai fazer daqui para frente, relaxar um pouco?

Não gosto de relaxar (dá uma gargalhada). Eu sou jovem, tenho um longo caminho pela frente e quero ficar na história do futebol. Acho que já estou na história, mas quero marcar ainda mais páginas e para isso tenho que seguir nesse caminho, em busca de mais conquistas. Graças a Deus, estou num clube que me dá garantias de poder ganhar todos os títulos que disputo.

Esse ano, porém, a briga pelo título de melhor do mundo deve ser ainda mais difícil, com o Messi vivendo grande fase. Você assiste aos jogos dele?
Eu assisto aos jogos dele, não apenas por ele, mas pelo Barcelona, que é uma grande equipe. O futebol é minha vida, gosto e tenho que acompanhar os jogos das principais equipes e tudo o que está acontecendo. Sem dúvida ele é um grande jogador, fantástico, mas não gosto disso de comparações.

Você fez 42 gols na temporada passada, muitos deles bem bonitos. Mas que gol você ainda não marcou e gostaria de marcar antes de encerrar a carreira e entrar na história?
De uma baliza à outra. Cruzar o campo inteiro driblando os dez jogadores adversários. Esse gol eu gostaria de fazer. Já fiz alguns gols bonitos nos treinos também e que gostaria de repetir nos jogos, fintando quatro jogadores e marcando, por exemplo.

De onde vem aquele ritual das cobranças de falta, dos quatro passos para atrás antes de correr para a bola?
É um estilo de bater. É assim que me concentro, assim que gosto de bater na bola. Eu me concentro no que vou fazer, no meu chute. Tem dado certo, tenho feito alguns gols de falta. E quando a bola entra é quase sempre um belo gol, porque a trajetória da bola é bonita. Mas cada jogador tem um estilo e técnica diferentes.

Você tem muitos admiradores, mas também tem muita gente que torce contra, seja porque você atua contra o time ou a seleção deles. Como se sente em relação a isso?
Eu gosto (dá uma risada). Eu gosto que me vaiem, que assobiem. Não me importo. Não é que me dê mais força, mas não me incomoda, não me atrapalha em nada. Quando eu entro em campo me concentro apenas na partida e procuro esquecer o que se passa à minha volta. Mas sei também que tem muita gente que torce por mim, que espera que eu sempre jogue bem. Eu busco isso, pois é importante para minha auto-estima também. Como diz o professor Carlos Queiroz, nós jogamos não apenas por nós mesmos, mas por nossa família, nossos amigos e todos os que gostam de nós.

A realidade na seleção portuguesa é bem diferente da que você vive no seu clube. Você sente mais pressão jogando pela seleção do que pelo Manchester United, onde divide as atenções dos adversários com outros grandes atacantes? Qual a diferença?
Noto, é diferente. Eu passo quase o ano inteiro treinando com os mesmos jogadores no meu clube, estamos muito mais entrosados, enquanto na seleção é mais difícil se acertar com pouco tempo para treinar. Eu sei que as pessoas esperam muito de mim, por tudo o que eu já conquistei, mas eu também espero. Quero sempre fazer o melhor, mas, infelizmente, nem sempre é possível.

Mas, antes, mesmo com os problemas de falta de tempo para treinar, a seleção portuguesa alcançou bons resultados. O que aconteceu?
Houve uma mudança muito radical na seleção, uma mudança de treinador, de parte do plantel, e estamos passando por um momento complicado. Devido às circunstâncias não estamos conseguindo repetir os resultados dos últimos anos, a que as pessoas se acostumaram. Mas o sucesso não se faz por linhas retas e Portugal vai tentar mudar este rumo. Não passa pela minha cabeça ficar fora da Copa do Mundo. Eu acredito plenamente na nossa equipe e no treinador. Se remarmos todos para o mesmo lado, se formarmos um grande ambiente, vamos nos classificar para o Mundial.

Você ainda tem contato com o Felipão? Por que acha que ele não deu certo no Chelsea?
O míster Luiz Felipe é, em primeiro lugar, um amigo meu, um treinador que me ajudou bastante e com quem eu gostaria de trabalhar novamente, porque evoluí muito com ele em todos os aspectos. Quando ele veio para cá as pessoas gostavam dele, mas a vida de um treinador é muito complicada. Se os resultados não aparecem, o técnico é quem paga. O mundo do futebol é assim, mas ele não vai deixar de ter o valor que tem. É um campeão do mundo, só isso já diz tudo. O que Scolari alcançou tanto no Brasil quanto na Europa faz dele um treinador exemplar, brilhante. Tive a sorte de trabalhar com ele e espero que isso aconteça outra vez.

no Manchester United, você tem a companhia de muitos brasileiros. Entre eles, os gêmeos Rafael e Fábio, que dizem que você adora contar que não fosse por sua causa eles não estariam no clube. É verdade?
Isso é brincadeira. Eles são dois meninos incríveis, muito educados e com um grande talento e um grande valor para o clube. Eu realmente liguei para eles a pedido do Sir Alex Ferguson, por causa do idioma e para explicar para eles o que representa o Manchester United. Não foi só para convencê-los.


Você ficou surpreso com a primeira temporada deles?
Sim, acho que eles já deixaram uma marca. Não é fácil chegar tão jovem num clube como o Manchester United e já jogar como eles fizeram - e jogar bastante bem, porque ambos têm atuado muito bem. Eu cheguei aqui muito jovem também e sei como é complicado. Mas também não posso esquecer do Rodrigo Possebon, outro menino fantástico, que adaptou-se bastante bem e é um jogador de muito talento. Sem falar no Anderson, claro. Todos os brasileiros no Manchester United têm um grande valor e são pessoas espetaculares.

Assim como eles, você seguiu para o exterior muito cedo. Alguns diriam cedo demais. Já pensou alguma vez como seria se tivesse ficado em Portugal?
Sim, já pensei. Já conversei com algumas pessoas sobre isso e não acho que teria sido igual. Seja se tivesse ficado em Portugal ou ido para outra liga, como a Espanha, por exemplo, quando tinha 18 anos. Eu recebi um convite da Inter de Milão na época também, mas acho que tomei a decisão certa indo para Manchester. Estou no melhor clube e na melhor liga. É claro que é difícil avaliar, mas acredito que tomei o caminho certo. O mesmo vale para o Rafael, o Fábio, acho que eles estão no clube certo e aqui vão se tornar grandes jogadores.

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