Bola Em Campo

5 de abril de 2010

Primeiro, a obrigação


Jogador do Arsenal, o jovem Denílson fala das dificuldades de viver sozinho na Inglaterra, da diferença no futebol inglês para o jogado no Brasil, faz uma análise da dificuldade dos jogadores da base subirem ao profissional e projeta um retorno ao Brasil daqui a dez anos, para enfim ter "só alegria"

Confira a entrevista na íntegra:

Por que o Arsenal tem falhado nos momentos decisivos? É muito jogador jovem junto?
Não sei te dizer, mas não acho que existe isso de o time tremer. Estamos devendo mesmo nos clássicos, mas ainda acredito que o time tem a possibilidade de ser campeão, independentemente da pouca idade. Talvez falte um pouco de liderança, mas nossa equipe procura conversar muito dentro de campo.

E como a notícia do confronto com o Porto pela Liga dos Campeões foi recebida por vocês?
Achamos bom, muito bom. Até porque tenho um amigo lá, o Hulk. Nós nos conhecemos na base do São Paulo. Ele é paraibano, a família do meu pai também é, e acabamos virando amigos.

Por que é tão difícil para os brasileiros a adaptação ao futebol inglês?
O futebol aqui é totalmente diferente. No Brasil, você tem mais tempo para dominar e pensar. O futebol inglês é muito forte, tem muito contato. Quem vê de fora acha fácil, mas é bastante complicado. E o Brasil é um lugar maravilhoso, todo mundo sente saudade. Cheguei aqui com 18 anos, já estou morando sozinho há três. É uma situação complicada, que não desejo para ninguém.

Por que optou por morar sozinho?
Meus irmãos têm as coisas deles no Brasil, meu pai também. Claro que a saudade é grande. Moro numa cidade vizinha, chamada Saint Alban's. Fica a 5 minutos do centro de treinamento do Arsenal. É uma cidade tranquila, que me oferece bastante descanso. Gosto de fazer minhas coisas, estudar inglês, que é importante. Independentemente de tudo, vale a pena você passar por esse processo todo, não só pelo dinheiro, mas por aprender outra cultura.

Por que os garotos da base do São Paulo não conseguem jogar na equipe de cima?
É difícil dizer o porquê. O elenco está muito forte, contrataram vários reforços. Acredito que o São Paulo vai dar mais tempo ao tempo com a garotada. Às vezes você joga por cinco, seis anos na base, acha que vai ser um Zidane e quando chega ao profissional não rende o esperado. Jogador está sujeito a esse tipo de coisa.

Você acha que o Muricy Ramalho foi o principal responsável por sua saída do São Paulo?
Com certeza. O Arsenal já tinha manifestado interesse por mim, e o Muricy não estava me usando muito nas partidas.

Mas você guarda alguma mágoa dele?
Não, de jeito nenhum. O técnico escala quem ele quer. Ele não me deu oportunidade, mas deu pra outros jogadores que ele achava que estavam melhores. Quando fui ao São Paulo, há dois anos, conversei com o Muricy, sem problema algum. Mas no fim das contas isso acabou me fazendo muito bem. Se tivesse ficado no Brasil, não teria toda a experiência que tenho hoje.

Você é tido pela imprensa inglesa como um jogador "educado e tímido". Isso ajuda ou atrapalha?
A educação veio da família. Graças a Deus meu pai e minha mãe, que já não está mais conosco, me educaram muito bem. A timidez é uma coisa minha mesmo. Dentro de campo você tem de perder esse tipo de coisa, mostrar quem você é, quem é o Denílson. Mas fora de campo nunca mudei.

Você ainda tem alguma esperança de ser convocado para a Copa?
Claro, tenho o sonho de chegar à seleção. Eu sonho ser convocado para o amistoso de março, contra a Irlanda, que é no Emirates, nosso estádio. Se não for convocado para esse amistoso, vai ficar complicado, porque só vai ter a convocação para a Copa do Mundo. [Uma semana após a entrevista, Denílson não foi convocado para o amistoso.]

Quem são seus principais concorrentes?
Jogadores de alta qualidade, o Lucas, o Anderson, Josué, Sandro. Quem estiver no melhor momento e for mais regular será convocado.

Vários jogadores têm voltado ao Brasil. Você também pensa em voltar?
Não. Sei que aqui estou tendo uma oportunidade única. O jogador tem que saber valorizar isso, ter a cabeça boa. Hoje é o momento de ficar aqui, que é onde ganho e sustento minha família. Quero ficar nove, dez anos na Europa e voltar, ter uma vida boa no Brasil. Aí, depois do futebol, é só alegria.

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